domingo, 4 de julho de 2010

PAULO FREIRE: Os processos de conhecer/aprender e relação professor/aluno

Na obra “ Pedagogia da Autonomia ” Paulo Freire explica suas razões para analisar a prática pedagógica do professor em relação a liberdade de ser e de saber do educando. É muito importante o respeito ao conhecimento que o aluno traz para a escola, sendo que ele é um sujeito social e histórico, a escola é o lugar onde a criança traz o que sabe e o que o professor tem para apresentar, oferecer, não transmitir conhecimento para o aluno, pois ensinar não é transmitir conhecimentos, mas sim, dar a condição para que a criança possa avançar. Devemos respeitar à autonomia e a dignidade de cada ser humano, sendo que essa autonomia se constitui em cada ação que nós fazemos, em cada ato feito. Acredita que “ formar é muito mais do que puramente treinar o educando no desempenho de destrezas ”, a ética é essencial para o trabalho do educador.
Em Paulo Freire, educar é construir, é libertar o ser humano das cadeias do determinismo neoliberal, reconhecendo que a história é um tempo de possibilidades. É um “ ensinar a pensar certo ”. É um “ ato comunicante, co-participado ”, de modo algum produto de uma mente “ burocratizada ”. Então, toda a curiosidade de saber exige uma reflexão crítica e prática, de modo que o próprio discurso teórico terá de ser aliado à sua aplicação prática.
Assim nós educadores e educandos somos seres que estamos em constante aprendizado, podendo transformar a realidade, conhecer é transformar a realidade, o mundo se transforma transformando os homens. A prática pedagógica não depende somente do professor, como também a aprendizagem não depende somente do aluno, quem ensina aprende ao ensinar, e quem aprende ensina ao aprender, “ não há docência sem discência ”, pois “ quem forma se forma e re-forma ao formar, e quem é formado forma-se e forma ao ser formado ”. O professor não é superior, melhor ou mais inteligente, porque domina conhecimentos que o educando ainda não domina, mas é, como o aluno, participante do mesmo processo da construção da aprendizagem.
“ O professor que pensar certo deixa transparecer aos educandos que uma das bonitezas de nossa maneira de estar no mundo e com o mundo , como seres históricos, é a capacidade de, intervindo no mundo, conhecer o mundo. Mas, histórico como nós, o nosso conhecimento do mundo tem historicidade. Ao ser produzido, o conhecimento novo supera outro antes que foi novo e se fez velho e se ‘ dispõe ’ a ser ultrapassado por outro amanhã. Daí que seja tão fundamental conhecer o conhecimento existente quanto saber que estamos abertos e aptos à produção do conhecimento ainda não existente ”.
O professor precisa de uma compreensão mais aprofundada do aluno e seu desenvolvimento na escola, é muito importante um vínculo afetivo para que se possa compreender as necessidades e o comportamento dos alunos, assim como suas limitações. Quando há a valorização dos alunos, das idéias diferentes e soluções criativas para diversos problemas, há também um ambiente favorável ao aprendizado, precisamos despertar no educando a curiosidade, a criatividade, o gosto pela busca da informação, do conhecimento, aprender de forma crítica. A curiosidade é um fato muito importante para a constituição do sujeito, para o conhecimento.
“O professor autoritário, o professor licencioso, o professor competente, sério, o professor incompetente, irresponsável, o professor amoroso da vida e das gentes, o professor mal-amado, sempre com raiva do mundo e das pessoas, frio, burocrático, racionalista, nenhum deles passa pelos alunos sem deixar sua marca”. (FREIRE, 2002, p.73).
Segundo FREIRE (1996:96), “o bom professor é o que consegue, enquanto fala trazer o aluno até a intimidade do movimento de seu pensamento. Sua aula assim é um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas.” Um bom professor torna suas aulas instigantes e estimula a participação do aluno; explica o conteúdo de forma clara, utilizando técnicas e assuntos relacionados à vida do aluno. Esta interação deveria ser a mais importante de todas as interações sociais que ocorrem no ambiente escolar, pois é o grande meio pelo qual se realiza o processo ensino-aprendizagem.
Freire ressalta a necessidade dos educadores criarem as possibilidades para a produção ou construção do conhecimento pelos alunos, num processo em que o professor e o aluno não se reduzem à condição de objeto um do outro. Insiste que ... “ ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção ” (FREIRE, 2003, p. 47), e que o conhecimento precisa ser vivido e testemunhado pelo agente pedagógico. O professor tem que dar testemunho de seu conhecimento, pois o testemunho é a principal forma para equivaler a aprendizagem / conhecimento, eu como professor tenho que estudar, pesquisar, gostar, demonstrar o conhecimento. A docência é testemunho da própria aprendizagem;
A relação professor / aluno tem que ser uma relação harmoniosa, com muito respeito em ambas as partes, de compreensão, de instigação, de muito diálogo, pois é à partir do diálogo que se dá a maior parte do processo de ensino – aprendizagem, é através dele que descobrimos a realidade do aluno, podendo assim partir de um pressuposto para seu estudo. O educador deve estar aberto a aprender e trocar experiências com os educandos, criar aulas dinâmicas, com metodologias diferenciadas.
Nesta obra, Paulo Freire nos instiga a pensar na forma que estamos agindo como educadores e educandos, tendo que haver o diálogo, a compreensão entre ambas as partes, respeitando as diferenças e os desafios que nos são lançados.

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